Há tantas realidades para as quais estamos profundamente adormecidos. O cancro é uma delas, pelo menos até bater à nossa porta. Este é um mecanismo de defesa perfeitamente compreensível. É a técnica da avestruz. Porque havemos de nos importar com algo que é angustiante e que, supostamente, está bem longe de nós? Comigo, era isto que se passava até há cerca de 13 anos atrás.
Tudo parecia correr na perfeição. Tinha acabado a minha licenciatura, esperava começar a trabalhar em breve, vir a ter a minha autonomia e ter os meus pais ali sempre presentes a aclamar os meus sucessos e a confortar as minhas dificuldades. O meu pai andava cansado. Era, com certeza, do trabalho. Foi necessário fazer uns exames de rotina, pedidos pela medicina do trabalho. Os resultados indicavam que algo não estava bem. Naquela tarde, esperámos ansiosos que ele chegasse da consulta com notícias. Recordo-me desse dia como se tivesse tirado uma fotografia que ficou impressa na minha memória para sempre. Eu perguntei ansiosa: Então pai, o que te disse o médico? Ele respondeu, com um olhar ansioso: Disse, que pode ser tudo. Até pode ser cancro!
Ficámos os dois em silêncio! Daí para a frente a jornada foi muito dura para todos nós, especialmente para o meu pai.
Passados 9 anos, nada, mas mesmo nada, me iria fazer acreditar que a história se iria repetir na minha casa. Desta vez com a minha mãe. De acordo com a teoria das probabilidades, qualquer um diria que seria altamente improvável a minha mãe ser vítima de um cancro, sem qualquer semelhança com o do meu pai, alguns anos depois.
Pois é, o improvável acontece! E a partir daí é impossível colocar a cabeça debaixo da terra. Nem que seja para conferir algum sentido a algo aparentemente sem sentido. É preciso acordar para esta realidade.
E a realidade é que o cancro afecta muito mais pessoas próximas de nós do que possamos imaginar e nós próprios somos potenciais doentes oncológicos. Obviamente, não faz sentido, vivermos aterrorizados. Isso não seria viver! Mas vale bem a pena perceber melhor esta doença e a multiplicidade de possíveis causas, porque se algumas não dependem directamente da nossa acção, há muitas que poderíamos evitar com facilidade.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
Este país não é para mães e pais...
Depois, de por acaso ter desembocado numa série de blogs onde algumas mães publicaram as suas experiências de mães e pais neste país de mentalidades caducas, resolvi ressuscitar o meu blog para também acenar esta bandeira...tão pomposamente chamada de "conciliação entre a vida familiar e profissional".
E teria tanto a dizer! Eu que saí, quase directamente, da barriga da minha mãe para uma creche algures em Lisboa, a abarrotar de recém-nascidos, provávelmente em estado catatónico. Tinha um mês e estavamos em 1974! É verdade, a licença de maternidade era de um mês e chegou a ser de 15 dias!
Não me lembro de brincar com a minha mãe (ela já dava o que podia e não podia para nos manter vestidos e alimentados e manter as contas pagas) e ajuda para trabalhos de casa, nem pensar, muito menos a presença dela numa reunião escolar! Há 4 anos lá se conseguiu vir embora da empresa à qual deu o tempo que, estou certa, gostaria de ter partilhado mais com os seus filhos! Lembro-me de a ouvir dizer: "finalmente vou ter para os meus netos o tempo que não tive para os meus filhos". Morreu um ano depois!
Sei que não sou a única filha da creche e do infantário! Somos muitos e não é hora para lamentações mas há que "pôr a boca no trombone" e lembrar SEMPRE que ainda está quase TUDO por fazer! É certo que alguma coisa mudou, pelo menos na lei, no papel, mas o que está na lei, infelizmente, não muda o que está na cabeça das pessoas.
Quanda a minha filha tinha 2 anos enchi-me de coragem e resolvi reclamar um desses direitos legais, supostamente, consagrados. O direito a usufruir de flexibilidade de horário por ter uma filha com menos de 12 anos. Recebi cartas de várias páginas (registadas e com aviso de recepção) a explicar que não me podia ser atribuido esse direito porque tal iria afectar drásticamente o serviço (a palavra drásticamente ou algo muito semelhante estava mesmo contida numa das cartas, por incrivel que pareça).
Umas semanas depois o serviço onde trabalhava pediu superiormente que me fosse atribuido horário flexivel por conveniência do serviço. Rápidamente recebi uma carta a dizer que, por conveniência do serviço, teria o tal horário flexivel de imediato.
E onde fica a conveniência das famílias deste país que será cada vez mais para velhos porque não permitem que seja de outra forma? Num país onde a qualidade do trabalho é medida pelo número de horas que se queima no posto de trabalho e onde não se percebe que se um trabalhador precisa de 12 horas para fazer o seu trabalho ou tem trabalho a mais ou não sabe gerir o seu tempo de trabalho. Infelizmente, na maior parte dos casos acredito que muita gente fica a fazer missa de corpo presente porque só assim se é visto como um bom trabalhador.
Pora mim a opção é clara! Não há dinheiro a mais no salário, aprovação do chefe, necessidade de reconhecimento profissional ou olhares reprovadores, quando saio a horas, que se sobreponham ao prazer de disfrutar mais tempo da presença do pequeno ser a quem dei a vida. Se lamentar alguma alguma coisa que não seja não ter testemunhado cada pequena etapa do crescimento da minha filha. Mas saír a horas, é o mínimo dos mínimos. Onde está a consagração do direito a trabalhar em jornada contínua ou em part-time? Como é que se admite que a lei só atribua 30 dias por baixa de assistência à família (claro que todos gostariamos que as nossas crianças não adoecessem nem um dia por ano, mas...). Isto já para não lembrar as dezenas de mulheres que vão a uma entrevista de emprego onde lhes perguntam descaradamente se tencionam engravidar ou nas que não vêm o seu contrato renovado por estarem grávidas. Venham-me, então, falar do envelhecimento da população portuguesa que teria tanto para lhes esfregar na cara.
Este país é só para velhos...de mentalidade!
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